Os dados serão apresentados no XXVII Congresso da ABEAD onde especialistas da área discutem a relação da automutilação e consumo de substâncias   

Assessoria ABEAD

No Brasil, a automutilação não suicida é considerada um novo fenômeno das adições que alerta os especialistas na área de psiquiatria no tratamento de transtornos relacionados ao uso de substâncias.

O conceito de automutilação não suicida faz parte do DSM 5 – Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, que na tradução para o português significa: “Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais”, e está na quinta edição. O DSM é escrito pela Associação Americana de Psiquiatria, que reúne as maiores autoridades em transtornos mentais no mundo e serve de guia para os profissionais.

Ainda não há dados conclusivos sobre o problema no país, mas o debate vai ser realizado no XXVII Congresso da ABEAD (Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas), de 03 a 06 de setembro, em São Paulo.

A Automutilação e consumo de substâncias, é o tema da palestra da psiquiatra, Renata Soares de Azevedo, coordenadora do Programa de prevenção ao uso de risco de substâncias psicoativas (Viva Mais) e do Ambulatório de Substâncias Psicoativas (ASPA) do HC/UNICAMP.

“Vou apresentar dados de um levantamento que nós fizemos na Unicamp, objeto da tese de mestrado de Bárbara Bandeira, publicada em outubro de 2022, que trabalhou este comportamento especificamente. Levantamos taxas bastantes expressivas de 17,8% dos jovens, mais mulheres do que homens, que relataram pelo menos um episódio na vida de automutilação”, ressalta a psiquiatra.

Renata Azevedo, reforça que o conceito de automutilação foi incluído recentemente no DSM 5 e há uma série de questionamentos em torno do problema, como a interface com o uso de substâncias. “Há vários estudos apontando essa relação. Mas, precisamos entender como isso é abordado do ponto de vista sintomático e de diagnóstico, o quanto que isto é um diagnóstico em si, o quanto que é um transdiagnóstico ou um sintoma que faz parte de outros quadros”, explica a psiquiatra destacando a importância com relação à comorbidades.

 Autolesão não suicida em universitários: um estudo transversal

A pesquisa que faz parte da tese de mestrado da Unicamp, Autolesão não suicida em universitários: um estudo transversal, de Bárbara Bandeira, de outubro de 2022, ouviu 6.906 estudantes. A investigação da automutilação não suicida (NSSI) foi elaborada com base no diagnóstico do DSM5.

Entre os entrevistados, 1.188 (17,8%) alunos relataram pelo menos um episódio de NSSI ao longo da vida. Cerca de 35% revelou que se automutilou pela primeira vez entre 14 e 16 anos. As mulheres são maioria, 752 (63,7%) dos entrevistados eram do sexo feminino e 430 (36,3%) do sexo masculino.

Resistência ao pensamento suicidam, alívio de emoções negativas

Segundo o levantamento na Unicamp, entre as justificativas para o engajamento à automutilação estão o esforço para resistir a pensamentos suicidas, o alívio para as emoções negativas e uma forma de desabafar o sentimento de raiva.

Além do comportamento autolesivo associado às mulheres, a pesquisa também constatou a predominância da NSSI entre pessoas negras e a atitude relacionada à insatisfação com o curso escolhido, história de bullying e transtorno mental prévio.

“Houve um risco dez vezes maior de comportamento suicida entre os automutiladores e esse risco foi ainda maior para NSSI recorrente”.

Comportamentos semelhantes 

No XXVII Congresso da ABEAD o tema NOVOS FENÔMENOS DAS ADIÇÕES A SEREM OBSERVADOS, a Automutilação e Consumo de Substância, vai aprofundar o debate sobre a relação entre os dois comportamentos e os caminhos para o tratamento. Apesar da falta de dados mais consistentes, as evidências apontam para um quadro preocupante.

De acordo com a psiquiatra, Renata Azevedo, existe uma percepção no comportamento de quem se automutila semelhante ao de quem faz uso de substâncias psicoativas (SPA).   “Artigos recentes apontam uma certa relação com dependência, aspectos como fissuras, de antecipação, de alívio e de prazer e um crescente, às vezes, no processo de automutilação não suicida, riscos da associação de automutilação não suicida e comportamento suicida”, resume.

No XXVII Congresso da ABEAD, de 03 a 06 de setembro em São Paulo (SP) , serão discutidos este e outros assuntos envolvendo as políticas públicas de atendimento aos Transtornos Relacionados ao Uso de Substâncias e Transtornos Aditivos, também chamados comportamentais.

Novos fenômenos de drogas como os vapers (cigarros eletrônicos), as drogas sintéticas denominadas K e Z, cocaína batizada com fentanil e as dependências comportamentais como sexo, jogos, compras, internet e trabalho fazem parte do amplo debate do congresso com mais de 170 palestras e outros eventos paralelos.

SOBRE A ABEAD – Atualmente, com sede em Porto Alegre, RS, a Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (ABEAD) reúne psiquiatras, assistentes sociais, enfermeiros, psicólogos, advogados, líderes comunitários, conselheiros, professores, entre outros profissionais, que trabalham com Transtornos por uso de substâncias e dependências comportamentais no Brasil e no exterior.

Criada oficialmente em 1989, a preocupação dos profissionais da área da saúde em relação ao álcool surgiu no final dos anos 1970, em São Paulo, como um grupo interdisciplinar. Já no início da década de 1980 realizou o primeiro encontro nacional e, em seguida, ampliou o foco de estudos para outras drogas e as dependências comportamentais.

Hoje a ABEAD é referência na discussão e implementação de  políticas de prevenção e tratamento do uso de drogas no Brasil e na América Latina. O Congresso, maior evento da associação, é realizado a cada dois anos.

Acesse abead.com.br e saiba mais.

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