A atuação profissional é um dos focos no XXVII Congresso da ABEAD, que reunirá profissionais de saúde mental nacionais e internacionais, de 03 a 06 de setembro, em São Paulo

Assessoria ABEAD

O estigma profissional enfrentado por aqueles que atuam no tratamento de dependentes químicos é uma realidade complexa e preocupante. Profissionais que trabalham nessa área desempenham um papel fundamental na recuperação e reintegração de indivíduos que lutam contra o vício em substâncias. No entanto, muitas vezes, eles também são vítimas do estigma social associado ao trabalho que realizam.

Um tema delicado que carece de estudos científicos, mas, na prática, é constatado por quem está envolvido no processo de recuperação de dependentes químicos e comportamentais, além do próprio paciente e sua família. “É uma observação muito empírica e, pela delicadeza que envolve o assunto, não é muito discutida. A gente que está no meio é que sabe”, afirma o psicólogo Luiz Guilherme Rocha Pinto, do Rio de Janeiro.

De acordo com o psicólogo, o preconceito é mais acentuado em relação aos adictos. “O estigma para todas as doenças mentais é grande, mas para as adicções o preconceito é ainda maior”, assegura Luiz Guilherme. Ele destaca também que houve um período em que o trabalho dos profissionais com adictos era considerado “menor”.

Esta percepção negativa que algumas pessoas têm em relação aos dependentes químicos em recuperação é um dos principais desafios a serem superados na sociedade.  Essa atitude pode se estender aos profissionais que os ajudam, que são vistos como trabalhando em um campo associado a fracassos, recaídas e dificuldades aparentemente sem fim.

“A dependência química é vista sobre uma égide de preconceito. No Rio de Janeiro, havia uma resistência dos profissionais com esta formação para tratar os adictos porque são pessoas que têm dificuldades em aderir ao tratamento. Mas isto mudou, felizmente”, constata.

Um outro lado, também preocupante, é o estigma do profissional que já foi um adicto. “Profissionais que passaram pelo problema são estigmatizados. Eu, como adicto em recuperação há 36 anos, enfrento este problema. Muitas vezes, este tipo de situação é visto sob um determinado estigma:o cara é ex-drogado. Esta situação vem melhorando, mas ainda existe”, afirma o psicólogo.

O trabalho dos profissionais, de forma geral, está associado à exposição contínua de situações difíceis, traumas e histórias de vida problemáticas que podem afetar a saúde mental dos que atuam no tratamento de dependentes químicos. Aliado à falta de reconhecimento público e apoio adequado, os profissionais  podem chegar a um esgotamento emocional e físico, além de prejudicar a autoestima e a motivação de cada um para se manter no setor.

O Brasil precisa de uma política pública melhor de prevenção e  de tratamento para quem é adicto ou tem problemas de abuso ou dependência química. O escopo, neste sentido é enorme e tem que ser tratado com mais eficácia pelas autoridades”, frisa o psicólogo que vai abordar o tema  ‘Estigma entre profissionais e suas consequências para a prestação de cuidados em saúde na área das adições’, no XXVII Congresso da ABEAD 2023, em São Paulo.

DEBATE NACIONAL

O XXVII Congresso da ABEAD acontece de 3 a 6 de setembro, no Centro de Convenções Rebouças, na capital paulista. E trará para discussão as políticas públicas de atendimento aos Transtornos Relacionados ao Uso de Substâncias e Transtornos Aditivos, também chamados comportamentais. O congresso, que é bianual, traz desta vez o tema “Diversidade: Eu, Tu, Eles…É Nós” para enfatizar que a adicção não é um problema apenas do usuário, mas de toda a sociedade e que é necessário uma soma de esforços para alcançar o objetivo comum: garantir políticas públicas coerentes e modernas, com assistência de qualidade às pessoas com transtornos por uso de substâncias e comportamentais e a seus familiares.

De acordo com a presidente da ABEAD, a psiquiatra Alessandra Diehl, o debate deste tema é imprescindível diante da realidade brasileira na gestão das políticas públicas relacionadas ao tratamento, que ainda é cercado de ações sem suporte prático. “A ideia é que possamos englobar os mais diversos aspectos sendo debatidos não só no âmbito da saúde, mas também do Direito, da Assistência Social, da Enfermagem, com participação também de representantes do surf, do skatismo, entre outros. O Eu, Tu, Ele…é Nós! é para entender que todos são importantes para a construção dessa rede”, explica.

No total, o congresso terá 176 palestras com profissionais especialistas e renomados de várias regiões do Brasil, referências dos setores público e privado, universidades, organizações não governamentais, organizações de assistência social, do direito, da educação e de saúde. Participam também palestrantes de organizações internacionais dos Estados Unidos, Canadá, Portugal, Argentina, México e Chile.

SOBRE A ABEAD

Atualmente, com sede em Porto Alegre, RS, a Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (ABEAD) reúne psiquiatras, assistentes sociais, enfermeiros, psicólogos, advogados, líderes comunitários, conselheiros, professores, entre outros profissionais, que trabalham com Transtornos por uso de substâncias e dependências comportamentais no Brasil e no exterior.

Criada oficialmente em 1989, a preocupação dos profissionais da área da saúde em relação ao álcool surgiu no final dos anos 1970, em São Paulo, como um grupo interdisciplinar. Já no início da década de 1980 realizou o primeiro encontro nacional e, em seguida, ampliou o foco de estudos para outras drogas e as dependências comportamentais. 

Hoje a ABEAD é referência na discussão e implementação de  políticas de prevenção e tratamento do uso de drogas no Brasil e na América Latina. O Congresso, maior evento da associação, é realizado a cada dois anos.

Acesse https://abead.com.br e saiba mais.

Assessoria de imprensa: Phonema Editoração

Jornalistas responsáveis: Suzi Bonfim (65) 99989-4693 e Telma Elorza (43) 99106-8902

 

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